As fortes enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024 deixaram um impacto econômico significativo no Estado, com perdas de cerca de R$ 6 bilhões para as seguradoras, segundo análise do IRB Re. A combinação de uma quantidade recorde de chuvas com fatores como o desmatamento das florestas nativas e falhas na infraestrutura de contenção agravaram ainda mais os efeitos das enchentes, criando um cenário de grande vulnerabilidade. Este evento climático foi um reflexo de problemas estruturais que afetam a região há anos, destacando a necessidade urgente de medidas preventivas para mitigar futuros desastres.
De acordo com a pesquisa do IRB Re, o desmatamento de biomas nativos no Rio Grande do Sul, que avançou significativamente entre 2018 e 2022, tem sido um fator-chave para intensificar os efeitos das enchentes. A perda da vegetação natural, que antes ajudava a reter a água da chuva e a reduzir a velocidade das enxurradas, deixou diversas áreas do Estado mais suscetíveis a deslizamentos e alagamentos. Esse desmatamento alterou os padrões climáticos, tornando as tempestades mais frequentes e intensas, o que aumentou as perdas humanas e materiais.
Além do desmatamento, a falta de uma infraestrutura adequada de contenção de águas também foi um fator crítico para agravar as enchentes. Falhas nas comportas do rio Guaíba e o bloqueio de canais de escoamento impediram a fluidez das águas, que poderiam ter sido desviadas para áreas seguras. Esses problemas de infraestrutura são comuns em diversas regiões do Rio Grande do Sul e evidenciam a falta de investimentos em melhorias que poderiam ter minimizado os danos das chuvas. A combinação desses dois fatores – desmatamento e falhas estruturais – gerou uma situação de calamidade sem precedentes.
A estimativa de que a reconstrução do Rio Grande do Sul custará entre R$ 110 bilhões a R$ 176 bilhões reflete a magnitude do desastre. Embora o seguro tenha coberto uma parte das perdas, a lacuna de proteção é imensa, já que apenas R$ 6 bilhões em indenizações foram solicitadas pelas seguradoras. Isso deixa uma grande parte dos danos fora da cobertura do setor privado, exigindo um esforço coordenado entre governos federal, estadual e municipal para arcar com os custos da recuperação e reconstrução de infraestruturas essenciais.
A análise do IRB Re também destaca que o impacto econômico total das enchentes é muito maior do que os R$ 6 bilhões registrados pelas seguradoras. Muitos dos prejuízos não foram cobertos por apólices de seguro, devido à ausência de políticas de proteção adequadas para desastres naturais dessa magnitude. Isso coloca em evidência a fragilidade do sistema de seguros no Brasil e a necessidade urgente de uma revisão nas políticas de prevenção e cobertura de riscos em situações extremas.
O evento climático de 2024 não apenas causou danos materiais, mas também alterou permanentemente a dinâmica social e econômica do Rio Grande do Sul. Milhares de pessoas foram deslocadas, e comunidades inteiras sofreram com a perda de propriedades e fontes de renda. Além disso, o ecossistema do Estado foi severamente afetado, o que comprometeu ainda mais a recuperação a longo prazo. A reconstrução não será apenas física, mas também envolverá a restauração dos serviços essenciais e o apoio psicológico às vítimas.
As lições extraídas desse desastre indicam a urgência de políticas públicas voltadas para a preservação ambiental e a melhoria da infraestrutura de contenção de águas. O desmatamento no Rio Grande do Sul precisa ser combatido com políticas de reflorestamento e fiscalização mais rigorosa, enquanto os sistemas de drenagem e contenção devem ser modernizados e ampliados para lidar com a intensificação dos eventos climáticos. Somente com uma abordagem integrada entre proteção ambiental e infraestrutura será possível minimizar os danos de futuras tragédias.
Em síntese, o impacto das enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul reflete uma série de fatores, como o desmatamento, a falha na infraestrutura e a falta de preparação para eventos climáticos extremos. O Estado agora enfrenta o desafio de se reconstruir, não apenas no aspecto físico, mas também de forma sustentável e resiliente. Com um olhar voltado para o futuro, é essencial que políticas públicas eficazes sejam implementadas para garantir que desastres como este não se repitam, criando um ambiente mais seguro e preparado para as próximas gerações.
Autor: Zusye Pereira