Produção de noz-pecã no Rio Grande do Sul sofre queda histórica com impacto de eventos climáticos extremos

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A produção de noz-pecã no Rio Grande do Sul passa por um dos momentos mais delicados de sua história recente. A estimativa de quebra de safra chega a 40% na colheita 2024-2025, resultado direto de um ciclo climático que trouxe excesso de chuvas no primeiro semestre de 2024 e uma forte estiagem nos meses seguintes. Este duplo impacto afetou o desenvolvimento das nogueiras em uma fase crítica do ciclo produtivo, comprometendo não apenas a quantidade, mas também a qualidade dos frutos colhidos.

O Rio Grande do Sul é atualmente o maior produtor nacional da cultura e concentra mais de 90% da produção brasileira. A área cultivada com nogueiras-pecã ultrapassa os 6.300 hectares, com predominância de propriedades familiares. Esses pequenos agricultores são os mais afetados pela quebra da produção de noz-pecã no Rio Grande do Sul, pois dependem quase exclusivamente dessa cultura para compor sua renda anual. A instabilidade climática expõe a vulnerabilidade dessas famílias e reforça a urgência de políticas públicas voltadas à agricultura resiliente.

Outro aspecto alarmante da crise atual é a informalidade que ainda predomina em parte do setor. Muitos produtores não estão inseridos em um sistema formal de produção, o que os impede de acessar linhas de crédito, incentivos fiscais e assistência técnica. Esse cenário dificulta a modernização do cultivo e inibe a implementação de práticas que poderiam mitigar os impactos do clima, como o uso de irrigação por gotejamento e o manejo adequado do solo. Formalizar a cadeia produtiva é essencial para fortalecer a produção de noz-pecã no Rio Grande do Sul diante dos novos desafios climáticos.

Além das perdas nos pomares, o setor de beneficiamento e comercialização também sente os reflexos da queda acentuada. O Rio Grande do Sul abriga as principais unidades de processamento da noz-pecã do país, que atendem tanto o mercado interno quanto a exportação para regiões como América do Norte, Europa e Ásia. Com a redução drástica na oferta de matéria-prima, as indústrias correm risco de operar abaixo da capacidade, o que pode resultar em demissões, aumento de custos e encarecimento do produto final para o consumidor.

Em meio a esse cenário desafiador, o Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan) propõe medidas para estimular a recuperação do setor. Uma das ações em destaque é a solicitação de redução do ICMS para produtores de noz-pecã, que hoje pagam 12% de imposto estadual sobre a comercialização. A proposta é adotar uma alíquota de 4%, como já ocorre com o azeite de oliva, outra cultura nobre cultivada no estado. A expectativa é que isso estimule a formalização, reduza os custos de produção e amplie a competitividade da produção de noz-pecã no Rio Grande do Sul frente a outros países produtores.

Outro caminho apontado por especialistas é o investimento em infraestrutura de irrigação. A estiagem prolongada registrada em 2024 foi a quarta em sequência nos últimos anos, tornando evidente a dependência da cultura em relação à disponibilidade de água. Com sistemas modernos de irrigação, os produtores poderiam manter um nível mínimo de produtividade mesmo em períodos de seca, reduzindo os prejuízos e garantindo estabilidade. A ampliação do acesso a tecnologias sustentáveis se mostra indispensável para o futuro da produção de noz-pecã no Rio Grande do Sul.

Os efeitos das mudanças climáticas sobre o setor agrícola não são exclusivos da cultura da noz-pecã, mas nesse caso específico, os danos são intensificados devido ao ciclo lento das nogueiras. Uma nogueira leva de oito a dez anos para atingir a maturidade plena e produzir em escala comercial. Portanto, perdas recorrentes afetam não apenas o rendimento de um ano, mas também a sustentabilidade econômica de longo prazo. A produção de noz-pecã no Rio Grande do Sul, além de sofrer com o clima, enfrenta o desafio de equilibrar paciência agrícola com agilidade nas respostas políticas.

A superação da crise na produção de noz-pecã no Rio Grande do Sul dependerá da união de esforços entre produtores, governo, entidades de classe e universidades. É necessário pensar em soluções integradas, que envolvam pesquisa genética para variedades mais resistentes, crédito rural facilitado, infraestrutura de escoamento da produção e incentivos à exportação. A noz-pecã tem grande potencial de crescimento no Brasil e no mundo, mas esse potencial só será plenamente explorado se houver um compromisso conjunto com o desenvolvimento sustentável e a adaptação às novas condições climáticas.

Autor: Zusye Pereira

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